As autoridades sanitárias do Cuando Cubango lançaram, ontem, um alerta urgente à sociedade local, em particular os pais e encarregados de educação, para o aumento do número de casos de malnutrição.
De acordo com os registos durante o ano de 2022, um total de 10.064 casos de malnutrição ocorreram e provocaram a morte de 97 crianças, menores de cinco anos.
Para o supervisor provincial da Saúde, ligado à área da Malnutrição, Inácio Cativa, a situação é alarmante e carece de medidas urgentes para ser estancada, especialmente em Menongue.
Entre as ocorrências registadas, explicou, 7.021 foram diagnosticados em Menongue, 1.626 no Cuchi, 601 no Cuito Cuanavale, 235 em Mavinga, 163 no Dirico, 137 no Cuangar, 116 no Rivungo, 86 em Nancova e 79 no Calai.
Inácio Cativa adiantou que, em 2022, 5.013 crianças foram curadas da doença e actualmente 10.060 estão em tratamento e são acompanhadas por 25 técnicos, distribuídos pelos nove municípios da região, através das Unidades Especiais de Nutrição (UEN), instaladas nas principais unidades de saúde locais.
Em 2021, referiu, foram registados 16.783 casos da doença, destes 7.672 pacientes ficaram livres da doença, 1.230 abandonaram o tratamento e 131 perderam a vida por complicações da malnutrição. “Se comparado com o ano passado, em 2021 tivemos muitos casos registados, mas graças a um trabalho de sensibilização está a ser possível inverter o quadro”, revelou.
O problema, continuou, é que apesar da redução dos casos, se comparado com o ano de 2021, a situação da malnutrição no Cuando Cubango ainda é muito preocupante, tendo em conta os números, assim como os casos de mortes.
Uma mais-valia, acrescentou, tem sido o aumento das campanhas de sensibilização sobre a educação nutricional. “Realizámos 121 acções que permitiram abranger 13.916 progenitores e encarregados de educação”.
Causas prováveis
Para o técnico de Saúde, uma das principais causas da doença é a falta de conhecimento nutricional por parte das famílias, o desmame precoce, introdução de alimentação prematura nos bebés e as doenças diarreicas agudas.
O supervisor do programa de malnutrição informou que para reverter o quadro a maioria das unidades sanitárias nas sedes municipais, comunais e em algumas aldeias tem trabalhado com o Programa para o Tratamento das Crianças no Ambulatório (PTCA).
“Actualmente, todas as unidades de saúde contam com técnicos devidamente preparados, que têm sensibilizado sobretudo as mães durante as consultas, sobre os procedimentos adequados, regras de alimentação saudável, ou a amamentação exclusiva até aos seis meses de vida, tendo em conta o crescimento saudável das crianças.
Suplemento terapêutico nas unidades sanitárias
Inácio Cativa disse que, em Dezembro do ano passado, receberam, do Ministério da Saúde, 2.500 caixas do suplemento “Plampy Nut” e “Plam-py Sup”, alimentos terapêu-
ticos, para atender as unidades sanitárias da região, com maior realce ao hospital pe-diátrico de Menongue, com o maior número de casos de malnutrição.
Durante este mês, adiantou, que esperam receber um lote de leite terapêutico, assim como medicamentos e materiais gastáveis, cedidos pelo Ministério da Saúde e o UNICEF, um dos parceiros do Governo angolano nesta luta.
Problemas no stock
Nos últimos dois meses, lamentou, as unidades sanitárias da província enfrentam uma rotura no stock do leite F100 e F75, suplementos utilizados no tratamento dos pacientes internados.
Para minimizar a situação, a direcção do Hospital Pediátrico de Menongue tem adquirido o leite Loya nas lojas locais, para dar seguimento ao tratamento dos pacientes internados.
Inácio Cativa considera, ainda, como principais dificuldades do programa, a falta de meios de transporte, para a realização de acções de sensibilização, ou a intensificação das campanhas de sensibilização porta-a-porta e visitas regulares aos pacientes em tratamento ambulatório. “Esta seria uma forma de aferir as reais motivações que levam muitos pacientes a desistirem do tratamento, situação que tem estado na base do registo de elevados casos de óbitos”.
Este ano, destacou, o programa tem como metas a formação de mais de 59 técnicos na área da malnutrição, melhorar o diagnóstico e o tratamento da doença, com maior realce entre os moradores das zonas recônditas e de difícil acesso. “É um trabalho a ser feito com o apoio das administrações municipais”.