O arcebispo metropolitano de Saurimo, Dom José Manuel Imbamba, disse que, quando se alcançou a paz a 4 de Abril de 2002, “o sentimento foi de muita alegria, de muita euforia, porque estávamos a sair de um ambiente de muita guerra, de muita incerteza”, mas, hoje “sinto que há recuou em alguns aspectos”.
Fonte: JA
Em declarações ao Jornal de Angola, a propósito dos 19 anos de paz, Dom José Manuel Imbamba indicou disse que deseja ver “um país consolidado, com uma linguagem política de alto nível, com uma justiça equidistante, com instituições fortes, instituições que não estivessem mais ligadas às pessoas ou às organizações partidárias, mas instituições que estivessem acima de todas essas partes”.
Para o prelado, 19 anos depois do estabelecimento da paz, ainda sente-se no país “um nervosismo social, agravado com o eclodir da pobreza, da miséria, da exclusão e de todo um cumular de vícios”.
“As nossas consciências ainda não se libertaram da tendência ao roubo, ao engano, à corrupção, à vida fácil, à preguiça, portanto, ao parasitismo social” e “enquanto não nos libertarmos desta mentalidade ruim, quero crer que as bases da nossa paz estarão sempre a mexer”, referiu.
O arcebispo de Saurimo disse que há ainda um longo caminho a percorrer para que “sejamos Paz”. Mais do que fazer, é preciso termos esta base no nosso ser, trabalharmos o nosso ser, trabalharmos a nossa consciência, trabalhar as nossas atitudes, para podermos projectar uma sociedade onde todos nós nos possamos sentir irmãos de verdade”.
Dom José Manuel Imbamba quer que se invista mais nas pequenas comunidades, tal como se fala muito do incentivo à agricultura familiar, e que os próprios investimentos não se concentrem no litoral. Em linhas gerais, evidenciou a necessidade de se criar outros pólos de atracção no país, para não se empolgar os jovens para Luanda, Lubango ou Benguela.
“É preciso que se criem outros pólos de desenvolvimento, para podermos desanuviar e fazer evoluir as pessoas dentro de todo o país e, assim, termos uma dinâmica salutar de desenvolvimento harmonioso, tendo em conta também o princípio das autarquias”, disse. acrescentando que “há necessidade de incentivar esse desenvolvimento a partir das próprias localidades, para evitarmos este esvaziamento que estamos a assistir hoje das zonas rurais para as cidades, das cidades pobres para as cidades mais ricas”.
Relativamente a uma das questões colocadas, se a Igreja tem sido ouvida, o prelado frisou que cabe aos próprios governantes responderem, pois, “nós, como Igreja, já temos cumprido a nossa missão, temos procurado nos encontrar com os governantes e temos enviado os nossos ofícios”, onde se tem procurado, publicamente, manifestar “o nosso pensamento em relação às várias realidades temporais em que nos encontramos a viver”.
Dom Manuel Imbamba afirma que deseja ver um país onde todos, “apesar das nossas diversidades, nos sentíssemos uma só família, uma família que se respeita, que aceita a correcção, que aceita caminhar junta, uma família que aceita construir contando com o mérito de todos os seus filhos”, para, com isso, se fazer evoluir “o bem-estar, a saúde social, a saúde cultural, a saúde política, a saúde económica, a saúde que todos desejamos para um país de paz, um país seguro, um país dos sonhos”.
A concluir, o arcebispo referiu que no país “deve haver méritos apartidários” e que se saiba ouvir os conselhos, se saiba dialogar mais, se saiba ir às bases, viver com os aldeões, ver como é que os outros vivem e criar-se mais empatia, “para podermos, de facto, sentir o país desde dentro, não sentir o país desde gabinetes e desde os relatórios que nos são fornecidos.