Nos últimos 45 anos de independência de Angola a economia do país sofreu baixas consideráveis por vários motivos, dos quais a petro-dependência, a má gestão dos recursos petrolíferos, bem como a pouca aposta no sector privado, de acordo com o economista e empresário industrial Waldemar Ribeiro. O analista afirma que as decisões que visavam alavancar a economia foram políticas, o que deu lugar aos resultados negativos que a economia observa hoje, aliada a crise financeira e agravada devido a pandemia do coronavírus. Nesta edição convidamos o também escritor que, da sua experiência e conhecedor dos meandros da economia de Angola, trás a sua reflexão em torno dos avanços e recuos do sector económico, nos últimos 45 anos de independência de Angola.
O economista e empresário industrial, Waldemar Ribeiro, entende que Angola desde que alcançou a independência tem tido algumas crises económicas principalmente na área industrial. O empresário acrescentou que nesses 45 anos de independência, a economia angolana tem sido sustentada pelo petróleo, uma energia altamente poluente. Com o advento da paz em 2002, o lema para reconstrução económica de Angola tem sido a diversificação da sua economia, um lema repetido até hoje, porém com poucos resultados reais. Houve algumas melhorias mas de forma geral estamos parados – rematou.
Segundo o empresário as decisões que visavam alavancar o sector económico no país foram e continuam a ser mais políticas. – Muitos responsáveis acham que uma ordem ou uma assinatura, a economia se transforma automaticamente, esquecendo-se que quem constrói uma economia são os empresários privados com os seus cidadãos com maior ou menor poder de compra. Para haver um empresário capaz, experiente, responsável e conhecedor da matéria é necessário um processo de aprendizado de muitos anos, aliado a muitos estudos, experiência, muitos erros e acertos – Disse o empresário.
No pensar do economista Waldemar Ribeiro, ao longo destes anos todos, o governo atual fez surgir um grupo de empresários que, pouco ou nada contribuiu para economia nacional, daí a afirmação do empresário industrial de que, “não se forma um empresário através de uma ordem ou de uma assinatura ou de um qualquer curso de empreendedorismo”. É preciso muito mais do que isso.
Waldemar Ribeiro entende que a diversificação da economia não pode ser uma mera falácia – não basta que se fale em financiamento dessa economia, não basta aparecerem empresários, não basta a construção de novas indústrias ou fazendas agrícolas, não basta produzir mais. Numa economia que depende do seu mercado interno, como é o caso de Angola, se os cidadãos não tiverem um poder de compra para adquirir os produtos de que necessitam, certamente os produtores terão prejuízos, ou os produtores mais atentos não irão aumentar a sua produção, tudo porque sabem das dificuldades na produção e venda dos produtos e não querem correr riscos de falência. – Disse.
O estado actual do Kwanza, mereceu igualmente análise do economista e fez uma panorâmica dos prejuízos adjacentes a desvalorização da moeda nacional. Para o empresário, quando o governo decidiu liberar a oscilação cambial do kwanza, a cerca de dois anos, sem poder considerar medidas de compensação económicas financeiras para manter um equilíbrio cambial, pois não tinha reservas cambiais, suficientes e capazes, houve imediatamente e continua haver uma oscilação bruta da oscilação do Kwanza e consequentemente o poder de compra dos cidadãos angolanos no geral, principalmente dos assalariados e das pequenas e médias empresas. Referenciou igualmente que Angola por ser um país essencialmente importador, os produtos importados são fixados em função do valor das divisas em relação ao kwanza, o que originou na perda do poder de compra pelo que, os salários reais dos cidadãos diminuíram. – A solução de aumentar simplesmente os salários, principalmente o salário do funcionalismo público, que são a maioria, num país com baixa produção interna industrial é uma medida extremamente inflacionária, porque a medida em que os salários, aparentemente são aumentados, de uma forma geral, automaticamente os preços dos produtos também sobem e numa escala maior, pois os mercados, de uma forma geral, estão atentos aos aumentos – disse Waldemar Ribeiro.
A necessidade de se encontrar caminhos económicos mais corretos e fundamentais para o desenvolvimento, deve ter como base a moeda nacional, sustenta o economista Waldemar Ribeiro, de maneiras a aumentar o poder de compra dos cidadãos, das empresas e da economia interna. Para o empresário industrial um primeiro caminho, para que o país saia desse marasmo, seria aumentar a produção industrial e agrícola, diversificando a economia, exportando mais, de formas a angariação de reservas cambiais. Mas este caminho, de acordo com o economista, exige grandes investimentos financeiros e grandes capacidades empresariais, o que Angola não tem. – Não basta haver dinheiro ou assinar documentos e dando ordens – Frisou.
Um segundo caminho, na visão do empresário, seria aumentar o lastro da nossa moeda, através de uma exploração correta do ouro, existente em Angola com reservas minerais naturais considerável. Mas não pode ser através de uma exploração incipiente, sem organização, grupos de cidadãos nacionais e estrangeiro com pouca organização e pouca responsabilidade e empresas não fiáveis. Teria de ser através de acordos económicos bilaterais com países altamente económicos, responsáveis e de confiança.
O país deveria selecionar países com estes gabarito com vista à exploração das reservas em ouro num período acordado, à médio ou a longo prazo. Ao fim da parceria esses países devolverão a Angola seus investimentos. Angola bem assessorada tecnicamente e de uma forma responsável, seria o fiscal desses e outros projectos, considerou o analista Waldemar Ribeiro, nas suas notas finais, sobre a sua análise ao estado da economia nacional 45 anos depois da independência, tendo sublinhado que tais caminhos podem minimizar os problemas da crise, através de entrada de divisas, alocados racionalmente, nos sectores que facilitam a diminuição do poder de compra dos cidadãos, possíveis reservas cambiais e aligeiramento das dívidas externas. Com esse pensamento concretizado, afirma Waldemar Ribeiro, o país transforma-se no lugar favorável para o investimento privado internacional, a olhar pelo bom ambiente de negócio.